Durante
um período solitário em New York, a escritora norte-americana Hannah Brencher,
decidiu espalhar mensagens de afeto pela Cidade. A sacada culminou no site More Love Letters, no qual ela e dezenas
de voluntários escrevem à mão cartas de amor para quem pedir.
"Tinha
acabado de me formar em Letras e de me mudar de Worcester, uma cidadezinha em
Massachusetts, para New York. Eu achava que estava vivendo em um sonho.
Só
que, na prática, não foi bem assim. Percebi que a vida ali seria penosa. Eu
estava tentando me descobrir, numa de saber quem eu era e estava absolutamente
sozinha nessa empreitada.
Todo
o medo, a dúvida, a incerteza, o desconforto se transformaram em uma tristeza e
solidão tão profundas que entrei em depressão.
Chorava
todos os dias. Sabia que estava doente, mas não conseguia contar aos amigos e à
família. Mas um dia, em pleno metrô de NY, tudo mudou.
Era
justamente nesse trajeto casa-trabalho-casa que eu mais me sentia sozinha. Em
Nova York está todo mundo preocupado demais com si próprio. E foi nesse
ambiente inóspito que tive minha epifania: comecei a inventar histórias sobre
as pessoas que cruzavam meu caminho. O rapaz com uma camisa do New York Knicks
era um atleta famoso saindo do treino para encontrar os amigos. A menina que
equilibrava um espelho no colo enquanto retocava o rímel estava a caminho de um
date com o namorado. Esse tipo de
história confortava meu espírito, me trazia paz.
Numa
manhã, vi uma mulher que parecia carregar um grande peso sobre as costas.
Aquela senhora de boné vermelho e botas desamarradas mexeu comigo. Como eu
sempre levava um caderno na bolsa, decidi escrever algo rapidamente, para
animá-la. Na carta, me abri, falei sobre os meus problemas, mas, ao mesmo
tempo, tentei mostrar o quanto ainda - e apesar de todos os pesares -
acreditava no amor, na vida. A mulher desceu do vagão antes que eu pudesse
terminar. Resolvi deixar o bilhete em dos bancos, para que outra pessoa o
encontrasse. E aquilo me fez um bem...
Passei
a escrever compulsivamente ensaios, depoimentos, histórias sobre o amor.
Nenhuma era para um destinatário específico, mas para quem quer que encontrasse
os envelopes que eu espalhava pelo meu caminho: dentro de livros da biblioteca,
mesas de restaurantes e até pendurados em galhos de árvores. Eu nunca assinava
- nunca quis ser identificada.
Fiz
um post no meu blog e disse que mandaria cartas pelo correio para quem pedisse.
Foi assim que nasceu a ideia do site www.moreloveletters.com.
Hoje, qualquer um pode entrar lá e pedir para receber sua própria carta de
amor.
Lembro
do caso de um homem que, pelo facebook,
disse ter desistido da vida. Parece que era sério. Seus amigos encomendaram
algumas cartas de amor. Na época me contaram que ele estava até dormindo com as
cartas embaixo do travesseiro.
Percebi
o quanto precisamos desesperadamente uns dos outros.
Acho
que o que faz tantas pessoas desejarem receber cartas de um desconhecido é o
que aquele envelope representa: presença, conexão.
"Querido
você,
o
mundo sempre vai precisar de gente
de
atitude, sonhadores e
pensadores.
Então,
continue
em frente."
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