quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Cartas de amor


         Durante um período solitário em New York, a escritora norte-americana Hannah Brencher, decidiu espalhar mensagens de afeto pela Cidade. A sacada culminou no site More Love Letters, no qual ela e dezenas de voluntários escrevem à mão cartas de amor para quem pedir.
         "Tinha acabado de me formar em Letras e de me mudar de Worcester, uma cidadezinha em Massachusetts, para New York. Eu achava que estava vivendo em um sonho.
         Só que, na prática, não foi bem assim. Percebi que a vida ali seria penosa. Eu estava tentando me descobrir, numa de saber quem eu era e estava absolutamente sozinha nessa empreitada.
         Todo o medo, a dúvida, a incerteza, o desconforto se transformaram em uma tristeza e solidão tão profundas que entrei em depressão.
         Chorava todos os dias. Sabia que estava doente, mas não conseguia contar aos amigos e à família. Mas um dia, em pleno metrô de NY, tudo mudou.
         Era justamente nesse trajeto casa-trabalho-casa que eu mais me sentia sozinha. Em Nova York está todo mundo preocupado demais com si próprio. E foi nesse ambiente inóspito que tive minha epifania: comecei a inventar histórias sobre as pessoas que cruzavam meu caminho. O rapaz com uma camisa do New York Knicks era um atleta famoso saindo do treino para encontrar os amigos. A menina que equilibrava um espelho no colo enquanto retocava o rímel estava a caminho de um date com o namorado. Esse tipo de história confortava meu espírito, me trazia paz.
         Numa manhã, vi uma mulher que parecia carregar um grande peso sobre as costas. Aquela senhora de boné vermelho e botas desamarradas mexeu comigo. Como eu sempre levava um caderno na bolsa, decidi escrever algo rapidamente, para animá-la. Na carta, me abri, falei sobre os meus problemas, mas, ao mesmo tempo, tentei mostrar o quanto ainda - e apesar de todos os pesares - acreditava no amor, na vida. A mulher desceu do vagão antes que eu pudesse terminar. Resolvi deixar o bilhete em dos bancos, para que outra pessoa o encontrasse. E aquilo me fez um bem...
         Passei a escrever compulsivamente ensaios, depoimentos, histórias sobre o amor. Nenhuma era para um destinatário específico, mas para quem quer que encontrasse os envelopes que eu espalhava pelo meu caminho: dentro de livros da biblioteca, mesas de restaurantes e até pendurados em galhos de árvores. Eu nunca assinava - nunca quis ser identificada.
         Fiz um post no meu blog e disse que mandaria cartas pelo correio para quem pedisse. Foi assim que nasceu a ideia do site www.moreloveletters.com. Hoje, qualquer um pode entrar lá e pedir para receber sua própria carta de amor.
         Lembro do caso de um homem que, pelo facebook, disse ter desistido da vida. Parece que era sério. Seus amigos encomendaram algumas cartas de amor. Na época me contaram que ele estava até dormindo com as cartas embaixo do travesseiro.
         Percebi o quanto precisamos desesperadamente uns dos outros.
         Acho que o que faz tantas pessoas desejarem receber cartas de um desconhecido é o que aquele envelope representa: presença, conexão.
"Querido você,
o mundo sempre vai precisar de gente
de atitude, sonhadores e
pensadores. Então,

continue em frente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário